Pedido de lideranças do Ceará a Lula para substituir superintendente da Sudene gera reação em Pernambuco, que teme perder a conexão ferroviária com o Porto de Suape em favor de Pecém.
Recife, PE – A permanência de Danilo Cabral na superintendência da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) se tornou o epicentro de uma disputa política com sérias implicações para o futuro econômico de Pernambuco. Após uma reunião no Ceará, o governador Elmano de Freitas, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o empresário Benjamin Steinbruch solicitaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a demissão de Cabral, com o objetivo de substituí-lo por um nome cearense. A manobra, que teria recebido o aval de Lula e do influente ministro Rui Costa, mobilizou a cúpula política e industrial de Pernambuco em defesa do atual gestor.
A origem da disputa está na Ferrovia Transnordestina. O projeto original, que ligaria o interior do Nordeste aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE), teve seu primeiro trecho concluído com foco total no Ceará. Para o professor Maurício Pina, especialista em mobilidade da UFPE, a saída de Danilo Cabral, que tem trabalhado ativamente pelo ramal pernambucano, representaria uma séria ameaça. “Se Danilo for substituído, o ramal Salgueiro/Suape que garante a permanência de Pernambuco no traçado da ferrovia, ficará ameaçado”, alertou.
Segundo o especialista, a solicitação de afastamento de Cabral demonstra que os cearenses não desejam a conclusão do trecho pernambucano. A não concretização da obra deixaria o Porto de Suape sem uma conexão ferroviária vital, enquanto Pecém contará com 2.500 quilômetros de ferrovia.
O pedido de demissão de Cabral, cuja indicação para a Sudene foi uma compensação do PT de Pernambuco pela falta de ministérios, gerou forte reação. O senador Humberto Costa (PT) procurou o Palácio do Planalto e, mesmo reconhecendo a dificuldade de reverter a decisão, mobilizou o partido e a bancada federal em defesa de Cabral.
A reação ganhou força com uma nota conjunta da Federação das Indústrias de Pernambuco (FIEPE), do Grupo Atitude, do Conselho Regional de Engenharia (Crea) e da UFPE, que reivindicaram a permanência de Danilo, atestando seu trabalho em prol do Nordeste e sua capacidade de diálogo. Líderes da bancada pernambucana, como os deputados federais Augusto Coutinho e Carlos Veras, e o próprio senador Humberto Costa, também manifestaram publicamente sua preocupação.
Em meio às articulações políticas, o presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, deputado estadual Álvaro Porto, divulgou uma nota em defesa de Danilo Cabral. Ele desmentiu a informação de que o superintendente estaria dificultando a liberação de recursos para o trecho cearense da Transnordestina. Segundo a nota, Cabral já liberou R$ 1,8 bilhão para a obra no Ceará e assegurou a liberação de outros R$ 3,6 bilhões.
A decisão final sobre o destino de Danilo Cabral na Sudene permanece em aberto, com a pergunta que “não quer calar”: caso ele saia, o PT de Pernambuco conseguirá manter a vaga com outro pernambucano?